Desde quarta feira, 07 de janeiro, um dos assuntos mais debatidos na mídia e nas redes sociais é ataque feito por radicais islâmicos ao jornal francês Charlie Hebdo. Em razão do ocorrido, a Globo News reprisou uma entrevista feita em 2012 com o estudioso da cultura islâmica Usama Hasam, realizada por Silio Boccanera para o programa Milênio, da mesma emissora. Diferente das demais análises que circulam pela internet e ganham espaço nos jornais, o pesquisador aborda o tema à partir de uma perspectiva histórica e cultural. Além disso, fala com conhecimento de causa. Em sua adolescência foi um radical islâmico e apenas com o passar dos anos modificou a própria postura, assumindo um posicionamento crítico-científico em relação à tradição muçulmana.
Confira abaixo a transcrição da entrevista, na íntegra, disponibilizada pelo site Consultor Jurídico:
Como se forma um radical islâmico capaz de explodir prédios ou se suicidar pela fé? Que tipo de ambiente familiar, educação, fervor religioso, repressão e ressentimento pessoal, leva alguém ao extremismo, à intolerância e à militância capaz de violência? O radicalismo religioso-político está hoje mais associado aos muçulmanos, 500 anos depois de ser prática comum entre os cristãos na inquisição e seus antecessores carniceiros nas cruzadas. Os radicais islâmicos não se formam apenas nas montanhas do Afeganistão, do Paquistão ou do mundo muçulmano em geral. Surgem também no Ocidente, em meio a culturas abertas à liberdade de expressão, a religiões variadas, à mídia sem censura, ao confronto de ideias e o respeito aos direitos e a fé de outros. Esta foi a questão que levamos a Usama Hasan, ele mesmo um ex-radical islâmico, embora criado em Londres, formado em Engenharia e Física pela conceituada Universidade de Cambridge e hoje expandindo os seus estudos de Teologia. Usama no momento assessora em Londres a Fundação Quilliam especializada em pesquisas e estudos sobre radicalismo islâmico, bem como consultorias a escolas, empresas e setor público sobre essa questão que volta e meia ressurge no noticiário. Como no episódio recente dos ataques a alvos americanos pelo mundo em reação a um filme considerado ofensivo ao profeta Maomé, e que aparece também na militância de grupos como a Irmandade Muçulmana no Egito ou o Hamas na Faixa de Gaza.